O Basquete Mudou? – Estilos de Jogo da NBA (PlayOffs)

Postado em 6 de outubro de 2020   artigos

Pós Temporada – Análise por Agrupamento

No último artigo  propusemos o seguinte exercício: identificar os principais estilos de jogos presentes na Temporada Regular 2018-2019 da NBA. Com base em análise de agrupamentos, identificamos os seguintes estilos de jogo:

  • “Reis do Garrafão”;
  • “Respeita os Clássicos”;
  • “Só vale do meio da rua”; e
  • “Aqui tudo é bom”.

Tais agrupamentos foram gerados a partir das características que cada time da liga apresenta em relação a: tentativas de arremessos, tentativas de 3 pontos, número de rebotes e número de assistências; na Temporada Regular 2018-2019. Nesse contexto, já é possível visualizarmos uma fotografia interessante com relação aos estilos de jogo, considerando a Temporada Regular.

Quando chegam aos PlayOffs, momento de maior pressão e de intensidade física e técnica dos atletas, há alguma alteração no comportamento e, consequentemente, estilo de jogo das equipes em comparação a Temporada Regular?

Em um primeiro momento, nos parece pouco provável, quase contra intuitivo, uma equipe alterar radicalmente seu estilo de jogo após 82 jogos disputados.

Ao usarmos o mesmo framework de análise aos playoffs, percebemos que há uma “dança das variáveis” em relação a significância estatística – variáveis que têm ou não relevância para a análise de agrupamentos.

As assistências abrem espaço para as roubadas de bola e turnovers, remetendo ao jogo de maior intensidade defensiva e de contato que caracterizam os PlayOffs – em momentos de maior tensão os erros/ turnovers tendem a decidir partidas e séries. Como consequência, a análise de agrupamentos será gerada a partir das seguintes variáveis: tentativas de arremessos de 2 pontos, tentativas de arremessos de 3 pontos, número de rebotes, número de roubadas de bolas, e número de erros cometidos; sob a perspectiva de média da variável/ jogo de PlayOff (Pós Temporada 2018-2019).

Recorreremos aos mesmos rótulos utilizados no artigo anterior, de forma a padronizar a análise e facilitar nosso entendimento – conforme quadro abaixo.

Quando comparamos a Temporada Regular com os PlayOffs (2018-2019), percebemos que o estilo “Só vale do meio da rua”, apresenta alterações a realidade dos PlayOffs – maior intensidade física e maior pressão, imposta pelo momento decisivo. Quando comparamos os índices do PlayOffs aos da Temporada Regular, constatamos que as tentativas de 3 pontos reduzem em 13,5%, os arremessos de 2 pontos aumentam em 9,2%  e o número de rebotes incrementa em 7%. Além disso, o estilo “Só vale do meio da rua” é o estilo que apresenta o maior índice de roubadas de bola por partida – aparentemente maior agressividade na marcação.

Essas alterações são resultado direto do efeito PlayOffs no Houston Rockets?

Na verdade, a análise de agrupamentos mostra que o Utah Jazz junta-se aos Houston Rockets, quando analisamos estilos de jogo nos PlayOffs (Temporada 2018-2019). O quadro abaixo traz a nova composição dos agrupamentos gerados:

O estilo “Respeita os clássicos” passa a contar, quando analisamos os PlayOffs, com a participação dos Denvers Nuggets, do pivô Nikola Jokic – chamado de “The Joker” por sua versatilidade em quadra. Nos PlayOffs, o estilo de jogo “Respeita os clássicos” lidera o número de tentativas de 2 pontos, mas é o segundo em número de rebotes por jogo e apresenta apenas 1,6 turnover por jogo – manutenção da característica de “cuidar da bola” observada na Temporada Regular. Ao mesmo tempo que é o estilo com o menor índice de tentativas de 3 pontos por jogo, o  “Respeita os clássicos” apresenta o segundo maior número de tentativas por jogo, não abrindo mão dos arremessos, embora procure aproximar-se da cesta. A liderança em rebotes observada possibilita, quando ocorrem na quadra de ataque, as “segundas chances” de arremesso a Spurs e Nuggets.

Quando analisamos os “Reis do Garrafão”, grupo de equipes que lideram em número de rebotes, percebemos que há uma redução no número de tentativas de arremessos (2 e 3 pontos), ao mesmo tempo que há um aumento no número de rebotes. Chama a atenção, em um estilo de jogo que tende a ser mais físico, o segundo menor índice de roubadas de bola por jogo. Complementarmente, o estilo “Reis do Garrafão” tem o segundo maior índice de turnovers (em média 9,7 turnovers a cada jogo de PlayOff).

O estilo “Respeita os clássicos” talvez tenha em San Antonio Spurs e Indiana Pacers seus principais expoentes –, já que estiveram nos PlayOffs da Temporada 2018-2019. Eles “cuidam da bola” e sempre buscam, pela rotação ofensiva, a melhor jogada para definição do ataque (times com menor número de tentativas de arremessos e arremessos de 3 pontos), ao mesmo tempo que não têm os arremessos de 3 pontos como característica.

O estilo “Aqui tudo é bom”, estilo de jogo que detém os finalistas da NBA na Temporada 2018-2019, apresenta uma variação significativa em número de rebotes quando comparamos a Temporada Regular (queda de 7,3% em número de rebotes por jogo). Complementarmente, as equipes que compõem esse grupo apresentam maior índice de turnovers por partida – há, em média, 13,8 perdas de posse de bolas, geradas por turnovers, em cada jogo de PlayOffs. Ao mesmo tempo, há pouca variação no número de tentativas de 2 e de 3 pontos entre Temporada Regular e PlayOffs, mesmo considerando  maior intensidade defensiva das equipes (jogo mais físico e que exige maior esforço dos jogadores ao se “livrarem da marcação”).

Dendograma Gerado

Quando analisamos o Dendograma podemos mergulhar de forma profunda em nossa análise:

Em termos de similaridade, percebemos que os finalistas de conferência na Temporada 2018-2019, Warrios, Raptors, Bucks e Trail Blazers têm seus “espelhos/ pares” com relação às características de jogo. Vamos aos pares:

  • Raptors & Pacers: Raptors e Pacers, quando analisamos as variáveis estatisticamente significantes, apresentam o mesmo estilo. O que justifica os Raptors serem campeões da NBA, enquanto os Pacers foram “varridos” pelos Celtics? Enquanto os Raptors possuem 4 jogadores que estão acima do 2° tercil de aproveitamento nos arremessos de 2 pontos, os Pacers tem apenas 3 jogadores (jogadores com aproveitamento igual ou superior a 50,2% nos arremessos de 2 pontos). Quando analisamos os arremessos de 3 pontos, os Raptors tem um jogador a mais versus os Pacers que tem aproveitamento superior a 34,5% nos PlayOffs;
  • Bucks & 76ers: a qualidade individual, quando analisamos Bucks e 76ers, apresenta-se de forma ainda mais significativa. Enquanto os Bucks tem 7 jogadores com aproveitamento superior a 34,5% nas bolas de 3 pontos, os 76ers possuem apenas 3 jogadores com aproveitamento igual ou superior nos PlayOffs. Quando analisam-se as tentativas de 2 pontos, mais uma vez os Bucks tem vantagem de um jogador versus os 76ers – 1 jogador a mais no elenco que tem, para os arremessos de 2 pontos, aproveitamento igual ou superior a 50,2% nos PlayOffs.
  • Warriors & Thunder: uma equipe ter em seu plantel jogadores como Stephen Curry, Klay Thompson e Kevin Durant, por si só, já é uma grande vantagem. Ao mesmo tempo, contar com Paul George e Russell Westbrook em seu plantel é quase um “selo de qualidade”. Quando analisamos os aproveitamentos dos atletas, é possível ter um melhor entendimento porque os Warriors foram finalistas da Temporada 2018-2019, amplos favoritos até a série de contusões em seu elenco, enquanto o Thunder foi eliminado pelos Trail Blazers em 4 jogos a 1. Ao mesmo tempo que o Thunder tem 5 jogadores em seu elenco que, nos PlayOffs, têm aproveitamento dos arremessos de 2 pontos igual ou superior a 50,2%, os Warriors tem 9 jogadores com este aproveitamento. Veja que os Warriors conseguiram aliar a incrível qualidade de 3 jogadores com um jogo coletivo extremamente eficaz. Quando analisamos as bolas de 3 pontos, vemos que contar com 3 superastros fez a diferença a favor dos Warriors – apenas Paul George e Westbrook tiverem aproveitamento superior a 34,5% nas bolas de 3 pontos nos PlayOffs da Temporada 2018-2019.
  • Trail Blazers e Magic: os Blazers apresentaram 6 e 5 jogadores com aproveitamento de elite nas tentativas de 2 e 3 pontos, respectivamente. O Magic, por outro lado, apresentou 2 e 3 jogadores com aproveitamento igual ou superior a 50,2% e 34,5% nas bolas de 2 e 3 pontos, respectivamente.

Veja que, por mais importante que seja o trabalho da comissão técnica, ter jogadores decisivos (os chamados clutch players) é essencial a uma equipe campeã da NBA. O recente documentário “O Último Arremesso” (“The Last Dance”), produzido pela Netflix, retrata um pouco da capacidade de decisão de Michael Jordan, considerado por muitos, o maior jogador de basquete de todos os tempos. Sabendo da importância destes jogadores e dos esforços financeiros que as equipes fazem para contar com este tipo de atleta, a NBA, assim como as demais ligas americanas, implementam o teto salarial (jogador e folha) para que haja maior competitividade entre as equipes – leia-se, maior imprevisibilidade de quem será o campeão a cada início de temporada.

Ficam as perguntas: As bolas de 3 pontos realmente mudaram o jogo? Qual o estilo de jogo mais eficiente? As respostas para essas e para outras perguntas, você acompanha no próximo artigo.

Até a próxima!