Quem cobrou barato no Brasileirão 2018?

Postado em 18 de dezembro de 2018   artigos

É comum em Programas Esportivos, em formato de debate, a discussão sobre quais clubes possuem política de preços que incluem ou excluem o torcedor do estádio. Ingressos “baratos” são comumente vistos como incentivadores ao público, enquanto ingressos “caros” afastam público com menor poder aquisitivo. Nesse artigo vamos nos aprofundar nessa questão, adicionando um pouco mais de complexidade nessa discussão. Esperamos que os dados despertem a curiosidade do leitor. Antes, vamos aos dados de Bilheteria no Brasileirão 2018 (acumulado em 38 rodadas).

A base teórica da análise será a Lei da Demanda, na qual se espera uma relação inversa entre preço vs. a quantidade demandada de um determinado produto. Ou seja, quanto mais barato um produto, maior tende a ser sua quantidade consumida.

Preços e poder de compra nas “Cidades Sedes” do Brasileirão

Em nosso último artigo, no qual discutimos preços no mercado de entretenimento, foi possível identificar o efeito do Poder de Compra na demanda. Em 2018, o Campeonato Brasileiro contou com clubes com sede em 11 municípios diferentes: Belo Horizonte, Chapecó, Curitiba, Fortaleza, Niterói, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, Santos e São Paulo. O salário médio nessas cidades varia entre 2,7 salários e 4,2 salários mínimos – Base Nacional. Isso significa que o preço de R$ 50/ ingresso, ou qualquer que seja outro valor, apresenta pesos distintos no orçamento do habitante médio das cidades anteriormente citadas (sedes do Brasileirão 2018 – Série A). Enquanto o menor valor médio de foi de R$ 10,49, praticado pelo Esporte Clube Vitória, o maior valor médio foi praticado pelo Palmeiras com R$ 60,26/ ingresso. Uma análise de correlação entre os valores absolutos de ingresso e público revelariam que quanto maior o valor do ingresso, maior foi o público acumulado de um clube.

Entretanto, esses valores absolutos tendem a representar relações diferentes quando se compara o tamanho do público de cada clube e a renda de cada cidade. Será que esses valores representariam barato e caro, respectivamente?

Dessa forma, façamos a seguinte comparação; sendo:

  • i => o valor do ingresso cobrado, em média, por um clube do Brasileiro;
  • r => o valor da renda no município no qual o clube tem sua sede;
  • n => o número de jogos, em média, que um clube faz em casa por mês no campeonato;
  • p => o tamanho da população da cidade;
  • q => a quantidade de times relevantes na cidade do clube.

Assim, criamos um indicador denominado ingresso relativo (ir); composto da seguinte forma:


Esse índice ir representa o quanto da renda mensal é consumida em relação ao contingente populacional médio de cada torcida em seu município. A análise desse índice nos dá outra visão sobre qual clube cobrou “Barato” e “Caro”: o maior índice é da Chapecoense, enquanto o menor é do São Paulo, sendo que o valor da Chapecoense é 22,3 vezes maior que os valores do Tricolor Paulista. Ou seja, quando se analisa a eficiência de arrecadação de clubes de cidades com população pequena, esses clubes arrecadam mais em bilheteria quando considerada a proporção de renda “abocanhada” do público.

Uma consideração que merece ser analisada é que em cidades maiores a oferta de bens e serviços de lazer tende a ser mais ampla, o que faz com que o futebol concorra (ainda mais) com outras opções de entretenimento, como cinemas, restaurantes, shows e demais opções de entretenimento ao público. No entanto, quando comparado o público e o índice ir, a tendência inversa esperada pela Lei da Demanda já aparece.

Jogos que valem mais ou menos

Outra forma de analisar os preços é colocar o desempenho esportivo como variável a ser considerada. O São Paulo disputou a liderança do campeonato por algumas rodadas. Cobrando o ingresso mais caro do ano (R$ 52,20 de ticket médio), o clube encheu o estádio no jogo contra o Palmeiras (56.694 pagantes). Cobrando mais barato algumas rodadas depois, contra o Grêmio quando já não mais disputava o título, o clube não encheu o estádio (público de 24.757 pagantes com ticket médio de R$ 30,66/ ingresso).

Partindo desse raciocínio, analisamos o índice ir em comparação com os pontos ganhos do clube, ou seja, o quanto um clube arrecadou da renda de uma população por ponto acumulado no Brasileiro. Olhando dessa forma, o Top 3 de clubes com ingressos “mais baratos” são: São Paulo, Flamengo e Palmeiras. O top 3 de ingressos “mais caros” são: Chapecoense, Paraná e Santos. Este último índice comparativo, quando considerados os pontos ganhos pelo clube, intensifica a relação inversa com o público total do clube ao longo do campeonato. Isto é, quanto menor o índice, maior o público no estádio, o que faz sentido do ponto de vista econômico de Lei da Demanda.

Conclusões

Embora seja fácil comparar valores absolutos de preços, a afirmação de que determinado clube tem uma política excludente de valor de ingressos pode ser precipitada. Realizar uma análise multidimensional pode demandar esforço do analista, mas incrementa o poder de explicação em cima dos dados.

Até a próxima!