Formando um Campeão – Brasileirão 2019 (Série A)

Postado em 21 de setembro de 2020   artigos

Quais jogadores fazem um time campeão?

Há uma famosa frase quando se discute desempenho de equipes: “ataques ganham jogos, defesas ganham campeonatos”. Buscando essa frase na internet, você vai encontrar diversos textos explicando a origem do raciocínio e, em boa parte das vezes, os textos utilizam comparação de dados.

No Campeonato Brasileiro de pontos corridos, o raciocínio não deixa de ser verdadeiro, pelo menos em parte. Na última década, times com a melhor defesa foram mais vezes campões do que os detentores do melhor ataque. Vejamos o balanço dos últimos campeonatos nacionais:

O leitor perspicaz percebeu que o que vale mesmo é ter o melhor saldo de gols. Ou seja, a equipe que obtém a melhor relação entre ataque e defesa normalmente é campeã. Essa regra só falhou uma vez, no título do Flamengo, em 2009. Desfeito o mito, vamos ao que interessa: quais jogadores formam uma equipe campeã?

Olhando esses dados, é possível deduzir que um elenco que obtenha a melhor relação entre gols marcados e sofridos é o ideal. Vamos analisar, primeiro, a parte do ataque.

Produção Ofensiva

É claro que a análise de como uma equipe marca gols é bastante complexa, mas vamos reduzir a análise para dois indicadores: gols e assistências.

No último brasileiro, tirando os gols contra (sempre traumáticos), foram marcados 853 gols por 290 jogadores diferentes. Em relação às assistências, tivemos 565 assistências realizadas por 269 atletas. A distribuição desses dois indicadores entre os jogadores está exposta no gráfico abaixo:

Analisando esses dados, é possível ver como a produção ofensiva de uma equipe é difícil. Apenas 40% dos jogadores pontuam nesses indicadores. Além disso, quando se analisam os gols, apenas 25% dos jogadores marcam mais de 1 gol. Em assistências, apenas 19% dão mais de uma assistência para seus companheiros. A partir desses dados, explicamos como uma equipe pontua, considerando os seus atletas atuantes em campo.

Ainda adicionamos uma variável de “decisão”: gols que valeram pontos para a equipe. Sabe aquele gol marcado em um jogo sofrido, que valeu os 3 pontos? Pois é, gols assim entram nessa contagem.

Combinando jogadores com gols ou assistências, obtivemos um total de 373 atletas. Dividimos esses atletas em 4 grupos, de acordo com essas variáveis. Os atletas mais fundamentais para que a equipe acumule pontos se enquadram em um tipo de perfil compartilhado por 29 atletas. Alguns exemplos: Osvaldo (Fortaleza), Ricardo Bueno (CSA), Michael (Goiás) e Marinho (Santos). São jogadores que, em média, fizeram 8 gols e 3,52 assistências.

Na campanha de 2019, cada jogador com esse perfil rendeu ao seu respectivo time 5 pontos a mais. Flamengo, Grêmio e Goiás tiveram 4 atletas nessas características. Das 4 equipes sem nenhum jogador nesse perfil, duas foram rebaixadas.

Os craques da competição, com perfil para a produção ofensiva, foram seis jogadores (média de 13,2 gols, 9 assistências e 1,2 gols decisivos). Cinco equipes contaram com jogadores com essa característica e, não por acaso, apenas uma equipe não ficou entre os cinco primeiros. Atletas como De Arrascaeta, Carlos Sanchez, Gabriel Barbosa e Dudu podem ser considerados os craques em relação à contribuição ofensiva. Ter um jogador como esses no elenco, significou conquistar 15 pontos a mais que os rivais, sem esse perfil de atleta. Spoiler: O Flamengo, campeão com 16 pontos a mais que o Santos, foi o único clube com 2 atletas nesse perfil. Veja que a diferença entre o campeão e o vice foi praticamente essa.

Jogadores considerados mais “comuns” –  Dos jogadores que contribuem ofensivamente durante o campeonato, o mais frequente é o que se enquadra na categoria com esses resultados: média de 1,31 gols e 1,12 assistências no campeonato.

Foram 291 atletas desse tipo, e não há relação entre a quantidade de atletas com esse perfil e o desempenho da equipe. Enquanto o Ceará, time que lutou até a última rodada contra o rebaixamento a Série B, foi o time com menos jogadores dessa classe (10), o Grêmio foi o time com mais representantes (21). Alguns nomes desse conjunto: Fágner, Geromel, Igor Gomes e Rodrigo Caio. Nesses exemplos, nota-se a presença de jogadores de defesa que contribuíram, em algum momento, para que a equipe marcasse gols. Contudo, vale o reforço: a abundância de atletas com esse tipo de contribuição no elenco não influenciou o desempenho geral da equipe.

Por fim, há um outro grupo de atletas composto por 47 jogadores que apresenta índices aparentemente bons: 3,43 gols, 1,77 assistências e 1 gol decisivo. Luan, Reinaldo, Romarinho e Guerra são alguns exemplos. As equipes com maior quantidade de atletas nesse grupo foram Palmeiras (5) e Ceará, São Paulo e Vasco (4). O Flamengo e Santos não tiveram nenhum atleta nessa característica. A quantidade de atletas nesse conjunto também não apresentou influência sobre o desempenho da equipe no campeonato.

De tudo isso, tiramos algumas conclusões, que podem parecer óbvias, mas pelo menos amparadas nos dados, diferente daquele chavão da melhor defesa:

  • atletas fora de série aparentemente fazem a diferença entre campanha boa e possibilidade de título;
  • para fazer boas campanhas, uma equipe deve ter de 3 a 4 atletas que contribuam de modo significante para a produção ofensiva (que marcam cerca de 8 gols no campeonato e produzem perto de 3 assistências na competição).

Muito bem, mas quanto de investimento é necessário ser feito por parte dos clubes para alcançarem esse desempenho? No post anterior nós abordamos a Alocação de Recursos vs. Eficiência Operacional dos principais clubes do país.

Até a próxima!